Love, Drugs & Rock n' Roll - Capítulo V

[Mia Roosevelt]

"Aconteceu outra vez.
Mais uma vez, eu e Romeo tivemos um daqueles momentos super-intensos. Ficámos deitados na areia da praia, a ouvir simplesmente o som do vento e das ondas do mar a baterem na costa, enquanto olhávamos um para o outro. Foi... Romântico, de certo modo.
Mas como tudo na vida da Erica, esta história não podia acabar bem.
Decidi jantar com ele e com o parvalhão do David, apenas para ele não considerar o meu convite algo semelhante a um convite para um jantar romântico.
E adivinhem? Um jantar que era suposto ser a três tornou-se num jantar a quatro. Uma nova rapariga da escola, vamos chamá-la Julliet, que é linda, linda, linda, estava na pizzaria. Ao que pareçe ela e o Romeo são vizinhos e, apesar de se conhecerem há menos de vinte e quatro horas, já se dão super-bem. E, claro, nunca vi o Romeo sinceramente apaixonado, mas... Sei lá, ele não se dá assim tão bem com as pessoas em tão pouco tempo.
Tinha motivos para querer fazer voodoo com a Julliet, e assim que a vi ali no restaurante, foi isso que quis fazer. Mas, após uma refeição com ela, vi que ela até era... simpática. E além do mais, a mãe dela fez de Edith em Amar é Pecado, que é a minha mini-série preferida de todos os tempos. Nem o Romeo nem o David conheciam a série, mas para o inferno com eles.
Pode ser que nos tornemos amigas. Isto é claro, depois de "resolvermos as coisas com Romeo".
Mas também, o que raio tenho eu a resolver com Romeo?

(Argh, estou tão farta dele e desta minha fixação por ele!)
Vou dando novidades. Peço desculpa pelo post rasca de hoje, mas não estou com cabeça para fazer nada poético ou cómico, como costumo fazer. Peço desculpa se isto parecia mais uma carta, ou um excerto do diário que nunca tive.

Por agora,
Erica despede-se com amor."


Cliquei no botão laranja e publiquei o post no meu blog - "A Erica é Que Sabe!". Sabia que naquele post parecia uma pré-adolescente  de onze anos a comentar sobre a sua vida amorosa, mas ao menos não abandonara os meus setenta e três seguidores, que estavam mal habituados relativamente à frequência com que publicava algo. Tinha de deixar de publicar todos os dias.
Abri a minha caixa de entrada de correio electrónico, e, noutro separador, abri o site de um blog de artes que costumava acompanhar com frequência.
Em menos de nada, uma nova mensagem surgiu na caixa de entrada. Fechei o separador do blog e abri a mensagem.

[A Erica é Que Sabe!] Novo comentário em Mais um conto de Fadas(?).
The Modern Flinstone deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Mais um conto de Fadas(?)": 

Miúda, estava com medo que não postasses nada hoje!Cá para mim a vossa história vai ter um fim feliz. Esse momento na praia... foi qualquer coisa.Não ligues à Julliet, a sério, ela não pode ser um obstáculo. Dizes que o Romeo se deu bem com ela, mas segundo li no teu blog (não te esqueças que sou o teu seguidor mais assíduo!), ele também se deu logo bem contigo. E, sendo eu uma pessoa do sexo masculino, digo-te por experiência própria que essa "amizade instantânea" de nada quer dizer.Além do mais, pareces-me uma rapariga espectacular e com um óptimo sentido de humor. Se ele não dá valor a isso, manda-o ir ver se estás na esquina!Um abraço do teu amigo,M. Flinstone 

Postado por The Modern Flinston no blog A Erica é Que Sabe! em 24 de maio de 2011 19:21

Sorri perante a mensagem e dei-lhe uma resposta simpática. Aquele blogger era um querido, e tinha um blog espectacular!
Era assim que via que, realmente, as pessoas que não conhecemos também nos fazem felizes.

*
[Jane MacMillan]

Cheguei a casa, tendo o cuidado para não fazer muito barulho. As luzes estavam desligadas, pelo que julguei que já todos estivessem a dormir.
Mas enganei-me. Encostado a uma parede, estava o meu irmão a olha fixamente para mim. Também ele estava bem vestido, pelo que calculei que tivesse saído.
- Onde foste? - perguntei descontraidamente.
- Fui jantar com a Mia. - ele respondeu secamente e fez má cara, ao examinar-me. - E onde raio foste tu? E porque é que essa saia é assim tão curta?
- Fui ao "Silver", se quiseres mesmo saber. Bem, e agora vou dormir, foi uma noite muiiito longa.
Passei ao seu lado, em direcção às escadas, mas ele agarrou-me no braço. Bufei, cruzei os braços e olhei para ele.
- Cheiras a álcool. - constatou ele, após farejar o ar em meu redor, como um cão.
- Bem, dah. - retorqui, revirando os olhos e encolhi os ombros. - O que é que as pessoas fazem nos bares?
Ele olhou-me friamente.
- Muitas coisas. - ficou em silêncio a examinar-me da cabeça aos pés, novamente. Provavelmente, a perguntar-se como tinham deixado que uma rapariga de 13 anos entrasse naquele local. E, muito provavelmente, a encontrar a resposta no modo como estava maquilhada e vestida. Era engraçado. Pessoas como eu, usava a maquilhagem para parecer mais velha e as pessoas mais velhas usavam-na para parecer mais novas. Irónico, não? - Diz-me, de 1 a 10, o quão inocente ainda és?
Pensei um pouco nisso, a olhar com um sorriso sarcástico para o meu querido irmão. Por vezes, ele parecia mais um pai que um irmão. A diferença é que para ele, eu era plenamente sincera. Sabia que não me ia pôr em problemas. Preocupava-se demasiado comigo para fazer queixinhas aos meus pais, embora me gostasse de ameaçar várias vezes com isso.
- Quatro. - respondi calmamente.
- E isso quer dizer exactamente o quê?
- Que já bebi álcool, que já fugi de casa umas quantas vezes, que minto constantemente à mãe, que já namorei com três rapazes mais velhos ao mesmo tempo, que já beijei um rapariga e que já fiz com que uma professora fugisse da cidade
Ele ainda não parecia satisfeito. Duvidava que estivesse zangado pelo que tinha acabado de dizer, visto que já tinha conhecimento de tudo o que tinha acabado de mencionar.
- O que é que queres saber ao certo? - acabei por perguntar.
- És virgem?
Ri-me perante aquela pergunta. Então era por isso que ele não parava de olhar para o meu vestido com um ar incomodado.
- Sou. - respondi. Esbocei um sorriso falsamente doce. - E tu?
Ele conteve uma gargalhada e suspirou. Pousou a mão no meu ombro.
- Só fiquei preocupado contigo, sabes disso. Já te falei das drogas que por ali andam e dos gajos aproveitadores que frequentam aquele bar. Mas não te preocupes, não conto à mãe que saíste.
- Obrigada.
Ele sorriu e começou a subir as escadas.
- De nada. Gosto muito de ti, miúda.
Fiquei calada sem saber o que fazer. Só quando ele estava no topo das escadas, é que esbocei um pequeno sorriso e lhe respondi.
- E eu de ti.
- Não te preocupes, eu não conto que disseste isso às tuas amigas. - disse ele, ainda a sorrir. Contive uma gargalhada, antes de ir também para o meu quarto
*
Desci as escadas, já com o uniforme do colégio vestido. O seu uso era obrigatório todos os dias, excepto às quartas-feiras. Muito provavelmente, para que fosse possível que os encarregados de educação os lavassem. Nunca tinha entendido bem o porquê.
Enfim, fosse porque motivo fosse, até gostava daquele uniforme. Uma saia de pregas preta que eu tinha tendência a subir e um colete de lã que pendia para o azul-escuro, que usávamos por cima de uma camisa branca. Claro, o uso do colete era apenas obrigatório no Inverno, bem como o uso de meias pelo joelho brancas com o brasão da escola em tons de azul-escuro. Embora escondesse o meu lado mais nerd, adorava o facto de me assemelhar a uma Ravenclaw. O meu irmão sempre me dissera que eu me parecia imenso com a Luna. Bem, excepto a atitude. Eu não era, nem de perto nem de longe, uma tontinha lunática e certinha. Gostava de ler, não de andar entre as linhas que os outros definiam. Limitava-me a criar os meus próprios limites. O que podia implicar umas quantas idas ao psicólogo, que me dizia sempre que esse meu feitio era simplesmente uma tentativa de fazer com que os outros reparassem em mim. Mas, sejamos sinceros, não é isso que todos os psicólogos dizem de todos os adolescentes?
Entrei na cozinha, à espera de ter os meus pais embrenhados nos seus trabalhos. Em vez disso, vi apenas o meu irmão a beber café, enquanto comia um donut simples. Ainda estava com o seu pijama com riscas verticais em tons de vermelho e tinha as suas pantufas negras calçadas.
- Bom dia. - disse-lhe.
- Bom dia. - ele tentou responder, com a comida na boca.
- Acompanhas-me à escola ou entras mais tarde?
- Mais tarde. - respondeu, antes de sorver um pouco do seu café.
Suspirei e acenei-lhe. Mesmo sem comer nada, dirigi-me para a escola. Não tinha muita fome. Passara a noite toda a comer um pacote inteiro de bolachas. Era o que costumava fazer quando estava com insónias.
Coloquei os meus óculos de sol, que já eram praticamente a minha marca pessoal, e os phones do meu mp4 nos ouvidos. Fuck yeah, Meshuggah logo de manhã!
Uma "amiga" minha passou ao meu lado e começou a tagarelar, aparentemente sem reparar que nada podia ouvir. Limitei-me a sorrir e a assentir com a cabeça.
Não sabia ao certo se a podia considerar minha amiga. Sabia que só se dava comigo pela minha reputação no colégio. Não era uma reputação muito boa, mas ainda assim era uma reputação maior do que a de grande parte das pessoas - e, para a Katy, não era importante ser-se bem ou mal visto; o que importava era ser-se conhecido.
Ah, e claro. Ainda havia aquela huge crush que ela tinha pelo meu irmão. Como se o meu irmão estivesse, de facto, interessado numa rapariga de doze anos - ainda mais nova que a sua própria irmã.
- Olha, desculpa - interrompi-a. Retirei os auscultadores dos ouvidos. - tenho de ir à casa-de-banho.
Ela limitou-se a assentir com a cabeça e eu praticamente fugi dali.
Sorri a uns quantos rapazes com quem tinha dançado na noite anterior, e pude notar que a maioria deles nem sequer se recordava do sucedido. Era naquilo que dava apanhar grandes bebedeiras e andar a snifar.
Quando entrei no WC, dirigi-me para a frente do espelho. Sorri para o meu próprio reflexo ao verificar que não tinha olheiras algumas que denunciassem a noite que passara em branco. Ajeitei os meus cabelos e retirei da mala o batom azul-escuro. Era uma cor um pouco estrambólica, eu sabia-o, mas eu gostava dela. A maioria dos meus professores criticava-me, mas isso só me fazia querer usá-lo mais.
Ouvi um barulho vindo de uma das cabines da casa-de-banho. Suspirei, apliquei o batom rapidamente e guardei-o, antes de ficar a olhar para a porta de onde vinha o som. Alguma rapariga estava a vomitar.
Ao fim de uns segundos, uma rapariga acabou por sair. Fiquei um pouco espantada, talvez porque nunca antes a tinha visto no colégio. E acreditem, se a tivesse visto, ter-me-ia recordado.
Tinha um cabelo negro, com madeixas vermelhas-escuras e olhos castanhos. Devia ter uns dezasseis ou dezassete anos de idade. Estava, naquele momento, vestida com o uniforme da escola, mas usava umas lindas botas pretas de plataforma, cheias de fivelas. Tinha também os lábios pintados de pretos e usava bastante eyeliner negro em redor dos olhos. Quando ela esfregou a boca com as costas da mão, pude notar que tinha as unhas pintadas de um azul gótico (tal como as minhas).
- Merda. - murmurou ela. Aproximou-se do lavatório a meu lado e começou a lavar a boca.
- Está tudo bem? - perguntei.
- Tudo óptimo. - respondeu, secamente, antes de começar a lavar a boca. Ao fim de uns segundos olhou para mim com atenção. - És minha vizinha, right?
- Depende. Onde moras?
- Rua Luther King. - respondeu ela. Fechou a torneira e indireitou-se. - Eu e a minha família mudámo-nos ontem. E vi um rapazinho que se parecia estranhamente contigo a falar bué com a minha irmã. Claro que nem eu por mim. Nunca ninguém dá pela minha presença.
Ignorei as suas últimas frases.
- É capaz de ser o meu irmão. - respondi. - Chamava-se Michael?
- I don't know. - retorquiu, encolhendo os ombros. Fiquei ligeiramente satisfeita ao ver que não era a única a falar inglês, assim do nada. - Apenas o vi a falar com a minha irmã.
Assenti com a cabeça.
- By the way, chamo-me Jane.
- L. - retorquiu ela. - O meu nome é horrendo, a sério.
Dei uma gargalhada e encolhi os ombros.
- O meu é Jane, não é propriamente bonito.
- O meu é Lisa. Tipo, eu pareço-te alguma nerd de cabelo amarelo espetado que toca saxofone e que anda com vestidinhos laranja?
Ri-me e ela suspirou. Ficámos em silêncio.
- So... Sentiste-te mal ou...?
- Comi as omoletas da minha mãe. Ela pode ser boa a muita coisa, mas não a cozinhar.
Assenti com a cabeça e voltei a olhar para o espelho. Eu já tinha sido bulímica, uma vez. Por isso é que me fazia impressão ouvir alguém vomitar. Não era capaz de sair imediatamente da casa-de-banho sem nada fazer.
- A minha mãe só sabe fazer torradas. E mete demasiada manteiga. - murmurei. A Lisa esboçou um pseudo-sorriso. Olhei para os seus pulsos e pude notar que tinha marcas de alguns cortes. Então a miúda era gótica. Isso queria dizer que, em menos de nada, também ela iria adquirir uma reputação semelhante à minha. Desviei de imediato o olhar, não querendo parecer rude. Outra coisa a acrescentar na lista de porcarias que tinha feito era a auto-mutilação. E sabia como era desagradável que alguém notasse os nossos ferimentos. - Bem, eu tenho de ir para a aula de História.
- Estás em Humanidades? - perguntou Lisa, franzindo a testa.
Ri-me.
- Sou do oitavo ano, infelizmente. - retorqui. Ela murmurou um "oh". - Mas fico feliz por saber que pareço mais velha.
- E pareces. Enfim, assim sendo, vou ver se me calha alguém minimamente interessante na minha turma. - resmungou ela.
Sorri amargamente.
- Achas que numa escola de betinhos e ricaços há alguém interessante? - perguntei. - Bem podes ter esperança. Para teres noção, a maioria deles ouve Mozzart nos intervalos.
Lisa estremeceu dramaticamente e suspirou.
- A minha mãe só escolhe colégios de merda para mim.

1 facetas:

Jane Doe - esqueçam-me - disse...

Next one, next one, next one! *.*